A história da foto de Antônio Andrade
A foto de Antônio Andrade, então fotógrafo do Jornal do Brasil, feita em 1958, é um flagrante que registra importante encontro do presidente Juscelino Kubitschek com o secretário de estado americano Foster Dulles. Foi obtida numa reação praticamente instintiva do fotógrafo, de maneira quase casual e, especialmente, sem qualquer intenção específica de incorporar a ela qualquer valor simbólico. Apesar dessa indeterminação na origem, foi rapidamente transformada em foto histórica, pela apropriação exercida por outras instâncias (a própria imprensa, os políticos), tornando-se uma imagem-símbolo do relacionamento político e econômico entre Brasil e Estados Unidos.
Diz o Paparazzi que “a foto abalou o governo do então presidente da República Juscelino Kubitschek”, uma vez que “o episódio mereceu à época réplicas e tréplicas dos colunistas contra e a favor de JK, nos inúmeros jornais do país, por dias seguidos e hoje continua atual pelas sucessivas idas e vindas do Brasil ao FMI.”
E descreve: “Em 6 de agosto de 1958, o Secretário de Estado norte-americano Foster Dulles veio ao Brasil para tratar de ‘negócios’ entre os dois países, em especial da política petrolífera, área onde o Brasil engatinhava. No Palácio das Laranjeiras, JK e Dulles tinham-se reunido a portas fechadas no gabinete do presidente brasileiro. A imprensa pediu uma foto tradicional, a do aperto de mãos entre os dois.
Antonio Andrade teria feito essa foto porque “o Jornal do Brasil, onde trabalhava à época, tinha como norma não apresentar fotos sob a mesma angulação dos demais jornais”. A foto “dá a impressão de que JK estende a mão, suplicante, ao secretário norte-americano, que por sua vez parece que está abrindo uma carteira à cata de dinheiro”.
"O JB estampou na primeira página sob o título ‘Me dá um dinheiro aí’, em alusão à modinha de carnaval.” Daí, “Carlos Lacerda, ferrenho opositor de JK e à época deputado federal e dono do jornal Tribuna da Imprensa, de onde torpedeava o presidente de olho na campanha eleitoral, fez um estardalhaço com a foto.”
Os efeitos da publicação da fotografia puderam ser sentidos em vários outros níveis, tendo afetado muito particularmente o próprio jornal, e resultado, aparentemente, em inflexões históricas inesperadas e de longo alcance: “Fustigado pela direita que o acusava de ‘proteger comunistas’, não perdoando suas relações com Cuba, e pela esquerda, que o chamava de ‘entreguista’ pela forma com que abria as portas para o capital estrangeiro, JK puniu o Jornal do Brasil pela polêmica foto: cassou a concessão do canal de televisão que já estava em sua mesa para ser assinada – seria o segundo jornal a ter um canal de TV (os Diários Associados, de Assis Chateaubriand, já tinham a Tupi) –, e que, mais tarde, seria dado a O Globo, de Roberto Marinho.”
Resultou ainda em baixas na equipe do governo e o diretor de redação do JB (Odilo Costa Filho) pediu demissão, que não foi aceita pela direção do jornal, ganhou as páginas de quase todas as publicações nacionais (na defesa e acusação) e saiu no New York Times e no Time.”
Interessante é que a imagem teve uma gênese relativamente prosaica, de certa maneira como mera consequência da disciplina profissional do fotógrafo: “Na verdade, Andrade só procurou seguir as normas do jornal e seu instinto, quando o cinegrafista Jean Manzon (que na hora estava atrás de Dulles mas não aparece na cena) pediu ao presidente que posasse junto ao secretário, para registro. JK teria dito ‘Mas, agora?’ ao mesmo tempo em que Dulles consultava sua agenda. Daí as mãos de JK e o gesto do norte-americano.”
.
Antonio Andrade, já falecido, nasceu na Bahia, veio para o Rio se alistar e acabou entrando em 1949 para o Imprensa Popular, a “voz” do PCB, então perseguido pelo governo Dutra, depois passando para O Globo e daí para a Tribuna da Imprensa, em 1955. Entrou para o JB quando da famosa reforma gráfica de 1956. Em 1960 volta à Tribuna da Imprensa como editor de Fotografia. Foi, por seis meses, correspondente da agência cubana Prensa Latina no Brasil, fotografando a visita de Che Guevara. Passou um tempo na Bahia e voltou para a Revista Manchete em 1966. Ganhou o Prêmio Esso de 1967 com uma foto publicada em Fatos & Fotos em que bombeiros salvam uma grávida arrastada por enxurrada na Tijuca. Esteve seis meses no Correio da Manhã e voltou para o JB, onde permaneceu até 1980, para então retornar a O Globo, onde ficou até 1986. Foi editor de Fotografia do jornal da Vale do Rio Doce, até a privatização da empresa em 1997 e, depois da aposentadoria, seu colaborador.
E descreve: “Em 6 de agosto de 1958, o Secretário de Estado norte-americano Foster Dulles veio ao Brasil para tratar de ‘negócios’ entre os dois países, em especial da política petrolífera, área onde o Brasil engatinhava. No Palácio das Laranjeiras, JK e Dulles tinham-se reunido a portas fechadas no gabinete do presidente brasileiro. A imprensa pediu uma foto tradicional, a do aperto de mãos entre os dois.
Antonio Andrade teria feito essa foto porque “o Jornal do Brasil, onde trabalhava à época, tinha como norma não apresentar fotos sob a mesma angulação dos demais jornais”. A foto “dá a impressão de que JK estende a mão, suplicante, ao secretário norte-americano, que por sua vez parece que está abrindo uma carteira à cata de dinheiro”.
"O JB estampou na primeira página sob o título ‘Me dá um dinheiro aí’, em alusão à modinha de carnaval.” Daí, “Carlos Lacerda, ferrenho opositor de JK e à época deputado federal e dono do jornal Tribuna da Imprensa, de onde torpedeava o presidente de olho na campanha eleitoral, fez um estardalhaço com a foto.”
Os efeitos da publicação da fotografia puderam ser sentidos em vários outros níveis, tendo afetado muito particularmente o próprio jornal, e resultado, aparentemente, em inflexões históricas inesperadas e de longo alcance: “Fustigado pela direita que o acusava de ‘proteger comunistas’, não perdoando suas relações com Cuba, e pela esquerda, que o chamava de ‘entreguista’ pela forma com que abria as portas para o capital estrangeiro, JK puniu o Jornal do Brasil pela polêmica foto: cassou a concessão do canal de televisão que já estava em sua mesa para ser assinada – seria o segundo jornal a ter um canal de TV (os Diários Associados, de Assis Chateaubriand, já tinham a Tupi) –, e que, mais tarde, seria dado a O Globo, de Roberto Marinho.”
Resultou ainda em baixas na equipe do governo e o diretor de redação do JB (Odilo Costa Filho) pediu demissão, que não foi aceita pela direção do jornal, ganhou as páginas de quase todas as publicações nacionais (na defesa e acusação) e saiu no New York Times e no Time.”
Interessante é que a imagem teve uma gênese relativamente prosaica, de certa maneira como mera consequência da disciplina profissional do fotógrafo: “Na verdade, Andrade só procurou seguir as normas do jornal e seu instinto, quando o cinegrafista Jean Manzon (que na hora estava atrás de Dulles mas não aparece na cena) pediu ao presidente que posasse junto ao secretário, para registro. JK teria dito ‘Mas, agora?’ ao mesmo tempo em que Dulles consultava sua agenda. Daí as mãos de JK e o gesto do norte-americano.”
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Antonio Andrade, já falecido, nasceu na Bahia, veio para o Rio se alistar e acabou entrando em 1949 para o Imprensa Popular, a “voz” do PCB, então perseguido pelo governo Dutra, depois passando para O Globo e daí para a Tribuna da Imprensa, em 1955. Entrou para o JB quando da famosa reforma gráfica de 1956. Em 1960 volta à Tribuna da Imprensa como editor de Fotografia. Foi, por seis meses, correspondente da agência cubana Prensa Latina no Brasil, fotografando a visita de Che Guevara. Passou um tempo na Bahia e voltou para a Revista Manchete em 1966. Ganhou o Prêmio Esso de 1967 com uma foto publicada em Fatos & Fotos em que bombeiros salvam uma grávida arrastada por enxurrada na Tijuca. Esteve seis meses no Correio da Manhã e voltou para o JB, onde permaneceu até 1980, para então retornar a O Globo, onde ficou até 1986. Foi editor de Fotografia do jornal da Vale do Rio Doce, até a privatização da empresa em 1997 e, depois da aposentadoria, seu colaborador.
4 comentários:
uma brincadeira que ficou cara. já vivíamos a 'guerra quente' não houve 'guerra fria' só houve 'guerra quente'. muita gente foi morta na 'guerra quente'.
sou neta do Antonio Andrade,e fico feliz que a memória do país esteja se fortalecendo por meio da internet,sou a portadora do premio esso que ele recebeu em 1967,e acredito que por meio de informações preciosas como esta publicada as gerações futuras poderão saber um pouco mais de pessoas que fizeram história..
Iza,
agradeço o comentário.
Fico feliz que o Andrade, com quem tive a honra de trabalhar, esteja sendo lembrado por sua neta.
Como vc mesma disse, é tb a memória do país que está sendo preservada.
Grato e parabéns,
Aguinaldo Ramos
Absurdo.
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